quinta-feira, 28 de junho de 2012

O TEMPO, ESSE ENIGMA


O tempo, em nossas vidas, é uma força enigmática. No último domingo, tive uma experiência marcante nesse sentido. Pela primeira vez, experimentei a sensação real de entrar em um túnel do tempo. Isso mesmo. Voltar quatro décadas em questão de segundos. Cheguei ao local marcado para o encontro e lá estavam pessoas que não via há quarenta anos.  É isso mesmo. Viagem impressionante. Que susto. Convivemos com o tempo diário, da rotina, do trabalho, dos minutos, das horas ; de repente voltar quarenta anos é como um renascimento, um retorno incrível, impressionante, quase um segundo parto.
Quando criança,  eu assistia à série Túnel do Tempo, em que os personagens eram transportados para  épocas remotas. Agora, bem distante da minha infância,  viajo até minha adolescência, reencontrando colegas e amigos de quatro décadas atrás.
Não sou do tipo nostálgico, que fica buscando o passado num processo de recuo permanente. O presente me atrai mais, com todas as mudanças e os riscos que ele traz. Mas não posso deixar de transmitir a minha emoção por ter reencontrado colegas com quem convivi há mais de quarenta anos no colegial do Joaquim Ribeiro.
É como se o tempo voltasse, os rostos de hoje se transformassem em faces adolescentes e nos comunicassem que  as mesmas pessoas daquela época estão ali , íntegras em sua essência,  cada uma com uma trajetória de vida, uma história que se cola a outra, a partir daquela em que nos conhecemos.
No primeiro momento, veio uma  sensação de estranhamento, que deve ter tomado a todos,  aos poucos nos familiarizamos e reconhecemos naqueles rostos  nós mesmos , porque fizemos parte de um só enredo que tem muitas nuances, conflitos, instantes mágicos e outros que ainda estão encobertos por uma nebulosa, mas que poderão vir à tona a qualquer momento.
Descobri: viajando ao passado, fazemos uma incursão em nós mesmos e no universo daqueles que têm uma relação conosco que nunca se apaga. A memória busca na trama do reencontro fios que se ligam, que criam novas sinapses a partir da velha experiência que se renova.
Do ontem para o hoje e do hoje para o ontem, abrimos pontes, que acionam novos encontros e abrem os nossos sentidos para conhecer um pouco melhor esse senhor enigmático e misterioso que é o tempo.
Ele de repente nos surpreende, nos chama, aguça os nossos sentidos e nos comunica que a vida não é estática e caminha nas mais variadas direções e que é necessário estar aberto a ela sempre.
O que é sonho, o que é realidade? Perguntas vêm à minha cabeça. Situações vividas e recuperadas, outras ainda perdidas. É bom viajar. Uma das maneiras é reencontrando pessoas e perceber que há um vínculo que se refaz, mesmo que em todo esse período não tenhamos tido consciência disso. Maravilhosa a trama dos encontros, desencontros e  reencontros que se dão em nossa odisseia humana tão surpreendente e rica.
Jaime Leitão é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.
Crônica publicada no Jornal Cidade e no Jornal de Piracicaba, na edição de 28-06-2012

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