O tempo, em
nossas vidas, é uma força enigmática. No último domingo, tive uma experiência
marcante nesse sentido. Pela primeira vez, experimentei a sensação real de
entrar em um túnel do tempo. Isso mesmo. Voltar quatro décadas em questão de
segundos. Cheguei ao local marcado para o encontro e lá estavam pessoas que não
via há quarenta anos. É isso mesmo.
Viagem impressionante. Que susto. Convivemos com o tempo diário, da rotina, do
trabalho, dos minutos, das horas ; de repente voltar quarenta anos é como um renascimento,
um retorno incrível, impressionante, quase um segundo parto.
Quando
criança, eu assistia à série Túnel do
Tempo, em que os personagens eram transportados para épocas remotas. Agora, bem distante da minha
infância, viajo até minha adolescência, reencontrando
colegas e amigos de quatro décadas atrás.
Não sou do
tipo nostálgico, que fica buscando o passado num processo de recuo permanente.
O presente me atrai mais, com todas as mudanças e os riscos que ele traz. Mas
não posso deixar de transmitir a minha emoção por ter reencontrado colegas com
quem convivi há mais de quarenta anos no colegial do Joaquim Ribeiro.
É como se o
tempo voltasse, os rostos de hoje se transformassem em faces adolescentes e nos
comunicassem que as mesmas pessoas
daquela época estão ali , íntegras em sua essência, cada uma com uma trajetória de vida, uma
história que se cola a outra, a partir daquela em que nos conhecemos.
No primeiro
momento, veio uma sensação de
estranhamento, que deve ter tomado a todos, aos poucos nos familiarizamos e reconhecemos naqueles
rostos nós mesmos , porque fizemos parte
de um só enredo que tem muitas nuances, conflitos, instantes mágicos e outros
que ainda estão encobertos por uma nebulosa, mas que poderão vir à tona a
qualquer momento.
Descobri:
viajando ao passado, fazemos uma incursão em nós mesmos e no universo daqueles
que têm uma relação conosco que nunca se apaga. A memória busca na trama do
reencontro fios que se ligam, que criam novas sinapses a partir da velha
experiência que se renova.
Do ontem
para o hoje e do hoje para o ontem, abrimos pontes, que acionam novos encontros
e abrem os nossos sentidos para conhecer um pouco melhor esse senhor enigmático
e misterioso que é o tempo.
Ele de
repente nos surpreende, nos chama, aguça os nossos sentidos e nos comunica que
a vida não é estática e caminha nas mais variadas direções e que é necessário
estar aberto a ela sempre.
O que é sonho, o que é realidade? Perguntas vêm à minha
cabeça. Situações vividas e recuperadas, outras ainda perdidas. É bom viajar.
Uma das maneiras é reencontrando pessoas e perceber que há um vínculo que se
refaz, mesmo que em todo esse período não tenhamos tido consciência disso.
Maravilhosa a trama dos encontros, desencontros e reencontros que se dão em nossa odisseia
humana tão surpreendente e rica.
Jaime Leitão
é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.
Crônica
publicada no Jornal Cidade e no Jornal de Piracicaba, na edição de 28-06-2012
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